O Globo, Economia, p. 29
21 de Abr de 2007
Marina enfrenta pressão de Lula e não acelera licença ambiental de usinas
Presidente diz que biocombustíveis vão diminuir a 'caloria' no planeta
Henrique Gomes Batista, Luiza Damé e Flávio Freire
Apesar da irritação do presidente Luiz Inácio Lula da Silva, a ministra do Meio Ambiente, Marina Silva, informou que não há prazo para o Ibama autorizar a construção das duas usinas do Complexo do Rio Madeira, em Rondônia, um dos principais investimentos do Programa de Aceleração do Crescimento (PAC). A informação foi dada em uma entrevista convocada para negar que esteja sofrendo pressão política para acelerar o trabalho de licenciamento ambiental, apesar do anúncio de reformulação do ministério.
- Não há previsão de prazo - afirmou a ministra, quando perguntada se esta licença poderia sair ainda este ano.
Santo Antônio e Jirau somariam R$ 20 bilhões em investimentos. Desde fevereiro, ministros e Lula prometem o licenciamento ambiental para os 15 dias seguintes. No PAC, a previsão era 7 de fevereiro.
Segundo Marina, os técnicos do Ibama que analisam o projeto consideraram que, do jeito que está montado, ele não permite uma conclusão sobre o impacto ambiental. Há indícios de que a construção das usinas acarretaria problema de sedimentação, o que provocaria o transbordamento do Rio Madeira em algumas vilas. Outro problema é a ameaça à sobrevivência de algumas espécies de peixes, como os grandes bagres e os dourados da Bacia do Amazonas.
Portanto, os técnicos concluíram, há 20 dias, que é preciso informações complementares. Isso significa que o licenciamento ambiental não será concedido. Perguntada se seria preciso refazer o projeto, Marina respondeu:
- Isso ainda não está sendo analisado, mas a revisão do projeto não está descartada.
Na reunião do Conselho Político de quinta-feira, Lula mostrou irritação com as argumentações do Ibama para não liberar os empreendimentos e disse que irira chamar Marina para uma conversa. Ele afirmou que a questão ambiental merece atenção, mas não pode ser entrave porque alguns ambientalistas se preocupam "com cinco ou seis espécies de peixes". A ministra negou que tenha sofrido pressão para mudar secretários e acelerar o licenciamento ambiental:
- O presidente Lula reiterou o convite para eu permanecer no ministério. É claro que tenho o respaldo dele.
Ontem à noite, Lula cometeu uma gafe na posse de Jackson Schneider como presidente da Associação Nacional dos Fabricantes de Veículos Automotores (Anfavea), ao confundir aquecimento global com calorias:
- A engenharia brasileira, depois de provocada, de estimulada, conseguiu em pouco tempo mostrar um carro que será o pacote mais extraordinário que a gente pode oferecer ao mundo. Um carro com alternância de combustível e que pode utilizar quanto quiser de cada um (álcool ou gasolina). Um carro muito menos poluente. Um carro que eu penso que será o carro do futuro, que será o carro do futuro no mundo se nós quisermos cumprir as regras que os estados estabeleceram para diminuir o aumento da caloria no nosso planeta.
Mais cedo, empolgado com a inauguração de uma montadora no interior de Goiás, Lula disse que o Brasil só não entrará no mundo das nações desenvolvidas se cair uma bomba atômica de pessimismo sobre o país. Lula afirmou que o Brasil conquistou a estabilidade econômica porque no início de seu governo foi feito um ajuste fiscal que significou "uma sangria".
- Não por mérito do presidente, mas muito mais por mérito da sociedade brasileira, atingimos um estágio na economia brasileira, que o Brasil só não atravessará a fronteira dos países em desenvolvimento para entrar na fronteira dos países definitivamente desenvolvidos se cair aqui uma bomba atômica de pessimismo ou uma coisa que não estamos prevendo.
O Globo, 21/04/2007, Economia, p. 29
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