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Investidores vêem risco maior de "apagão"

FSP, Dinheiro, p. B5
18 de Jul de 2007

Investidores vêem risco maior de "apagão"
Estudo prevê falta de energia caso a economia cresça 4,8% por ano até 2011 e construção de usinas atrasem

Humberto Medina
Da Sucursal de Brasília

O risco de haver racionamento de energia em 2011 é de 32%, de acordo com investidores privados do setor. O cálculo supõe que a economia cresça a um ritmo de 4,8% ao ano e haja atrasos na construção de novas usinas ou no aumento do fornecimento de gás natural para termelétricas.

Se não houver atrasos, esse percentual diminui um pouco, para 28%. Ainda assim, muito superior ao risco oficial tolerável, de 5%. Os cálculos foram feitos pela consultoria PSR a pedido do Instituto Acende Brasil, que representa investidores privados no setor.

Com esses números, os investidores privados em energia já sugerem que o governo comece a pensar em regras para um eventual racionamento. "O governo precisa dar transparência ao assunto. E desde já regulamentar como seria uma situação de racionamento", disse Cláudio Sales, presidente do Instituto Acende Brasil. O último racionamento de energia aconteceu entre junho de 2001 e fevereiro de 2002.

De acordo com os cálculos feitos pela PSR, haverá um "buraco" no fornecimento de energia de aproximadamente 3.100 MW (megawatts) até 2011 - quantidade quase igual ao que a hidrelétrica de Santo Antônio, no rio Madeira (RO), poderá gerar quando estiver pronta (3.150 MW). Para o consultor da PSR, Mário Veiga, a situação é muito mais complicada que o governo supõe.

As grandes obras anunciadas pelo governo para aumento de oferta de energia - hidrelétricas do Madeira e usina nuclear de Angra 3 - não resolvem o problema porque só entram em operação depois de 2011. No curto prazo, o fator principal para o alto nível de risco é o fornecimento de gás para termelétricas. Outro problema é o fracasso do leilão de energia alternativa - pequenas centrais hidrelétricas e termelétricas de biomassa (bagaço de cana)- realizado mês ado.

Alarmista

O ONS (Operador Nacional do Sistema Elétrico) considerou alarmista o estudo divulgado pelo Instituto Acende Brasil. "O resultado pode confundir a sociedade", disse Hermes Chipp, diretor-geral do ONS, órgão responsável por gerenciar o funcionamento do sistema elétrico.

De acordo com Chipp, estudos feitos pelo ONS indicam que os riscos de falta de energia estão abaixo de 5% em quase todo o país em 2011. Apenas na região Nordeste o risco supera o limite considerado aceitável, mas fica em 4% para déficit de energia superiores a 1% da demanda.

Pelos cálculos do ONS, a quantidade de energia que, em tese, poderia faltar no Nordeste tem condições de ser facilmente providenciada com a instalação, por exemplo, de uma usina termelétrica que use carvão como combustível.
Uma das críticas feitas pelo diretor-geral do ONS ao estudo do Acende Brasil é o fato de não haver refinamento da informação, para que seja possível saber qual o tamanho do racionamento a que se referem os percentuais. Para Chipp, no entanto, é importante que o fornecimento de gás para termelétricas aumente de acordo com o previsto pelo governo para que os níveis de risco fiquem abaixo de 5%.

Falta de energia pode começar pelos grandes consumidores
Da Sucursal de Brasília

Na avaliação do Instituto Acende Brasil, as empresas que optaram por comprar sua energia no mercado livre -grandes consumidores, como indústrias, shoppings ou hipermercados- estarão entre os primeiros afetados com o risco de racionamento e podem começar a sentir o problema no bolso a partir ano que vem.

Esses consumidores optaram por aproveitar o preço baixo da energia no período pós racionamento, quando havia excesso de oferta, e fizeram contratos de curto prazo para fornecimento de energia, saindo do mercado das distribuidoras, chamado de "mercado cativo" no qual estão os consumidores residências.

Na avaliação da consultoria PSR, os contratos do mercado livre que vencem ano que vem não poderão ser renovados -a estimativa é que fiquem "descontratados" montantes entre 800 MW médios e 1.000 MW médios. O problema dos consumidores livres é conhecido do governo desde 2005.

FSP, 18/07/2007, Dinheiro, p. B5

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