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Ganhos da abertura

FSP, Editoriais, p. A2
12 de Dez de 2007

Ganhos da abertura
Sucesso no leilão de usina da Amazônia deveria motivar plano ambicioso para abrir infra-estrutura ao capital privado

Fazia tempo que o noticiário sobre o setor elétrico no Brasil era um acúmulo monótono de incertezas e percalços. O resultado do leilão da hidrelétrica de Santo Antônio -a primeira grande usina a ser construída na Amazônia desde Tucuruí- altera esse quadro.
A exploração hidrelétrica em larga escala da bacia amazônica era, e em boa medida ainda é, um salto no desconhecido. A enorme distância dos mais importantes centros consumidores da energia, as exigências ambientais redobradas e as peculiaridades da região são complicadores adicionais para o cálculo econômico do empreendimento.
Chegou-se a uma primeira definição de preço para as novas usinas amazônicas. O consórcio que obteve o direito de construir a usina de Santo Antônio, no rio Madeira, e vender sua eletricidade por 30 anos comprometeu-se a cobrar R$ 78,87 o MWh. O grupo liderado pela construtora Odebrecht -integrado pelas estatais Furnas e Cemig, pela empreiteira Andrade Gutierrez e pelos bancos Santander e Banif- aceitou vender a energia a um preço 35% abaixo do teto do leilão, fixado pelo governo federal.
A tarifa, que vale para o chamado mercado cativo -consumidores residenciais e empresas que compram eletricidade por meio de distribuidoras- é surpreendentemente baixa. Está aquém dos preços de referência da energia oriunda de usinas antigas, cujo custo do investimento para a sua construção já foi abatido.
Se esse patamar tarifário for confirmado no pregão, previsto para maio, de Jirau -a outra usina de grande porte do rio Madeira-, ficará configurada uma trajetória benigna para o preço da energia no médio prazo. Seria uma excelente notícia para consumidores e empresas. Contribuiria para o controle da inflação, os ganhos de produtividade e a competitividade dos produtos fabricados no país.
O sucesso parcial da "avant-première" da energia amazônica, no entanto, não diminui os riscos de faltar energia no Brasil em curto prazo. Os 3.150 MW de Santo Antônio (um quarto da potência de Itaipu) só estarão todos no sistema em 2016, se o cronograma for rigorosamente cumprido. Continua aceso o sinal amarelo do apagão, especialmente para o biênio 2009-2010.
O pregão de segunda-feira foi mais uma demonstração eloqüente de que amos por um período de elevado apetite por investimentos de risco. Aplicadores e empresas aceitam comprimir as margens tradicionais de retorno e alongar seus prazos na expectativa de auferir ganhos um pouco maiores do que, por exemplo, o dos deprimidos juros dos títulos públicos americanos.
O Brasil deveria aproveitar-se mais dessa conjuntura excepcional. Um programa ambicioso de abertura da infra-estrutura ao setor privado atrairia capitais e tecnologia em escala e ritmo muitas vezes superiores a todos os PACs anunciados. A recuperação de um padrão de crescimento forte e contínuo pela economia brasileira depende disso.

FSP, 12/12/2007, Editoriais, p. A2

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