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Desmatamento recorde: Amazônia tem piores números para o mês de maio da série histórica, aponta Inpe

O Globo, Sociedade, p. 9
05 de Jun de 2021

Amazônia tem piores números para o mês de maio da série histórica, aponta Inpe

Com dados de 28 dias, área desmatada foi de 1.180 km², aumento de 41% em relação ao mesmo mês em 2020
Raphaela Ramos e Jan Niklas

RIO - O desmatamento na Amazônia atingiu em maio de 2021 o pior índice para esse mês desde o início da série histórica, em 2016, segundo dados do Instituto de Pesquisas Espaciais (Inpe).

Ainda não foram computados os dados dos três últimos dias do mês, mas em apenas 28 dias os alertas de desmatamento abrangeram uma área de 1.180 km², um aumento de 41% em relação a maio de 2020, quando foram detectados alertas numa área de 834 km².

É a primeira vez que o número ultraa 1.000 km² para esse mês, segundo o Sistema de Detecção de Desmatamento em Tempo Real (Deter), do Inpe.

Segundo a rede de organizações da sociedade civil Observatório do Clima, o dado é preocupante, porque maio marca o início da estação seca que se estende até setembro, quando a devastação se intensifica em grande parte da região amazônica.

Como publicou O GLOBO, com chuvas muito aquém do esperado em algumas regiões do bioma entre dezembro e abril, e o desmantelamento da fiscalização, a Amazônia pode ter uma temporada histórica de queimadas. Mais de 5 mil km² de floresta desmatada no ano ado pode ser destruída pelas chamas até o final do ano, diz o Centro Nacional de Monitoramento e Alertas de Desastres Naturais (Cemaden).

O número divulgado pelo Deter nesta sexta-feira é o terceiro recorde de desmatamento na Amazônia consecutivo este ano. Em março, o Deter detectou perda de 367 km² de floresta, um aumento de 12,5% em relação ao mesmo período de 2020 e maior área da série histórica para o mês. O ano de 2021 também teve o pior abril da série histórica, com alertas para uma área de 580,55 km².

Já os meses de janeiro e fevereiro de 2021 registraram índices de devastação menores do que os notificados no mesmo período no ano ado.

No total de janeiro a maio deste ano, foram mais de 2.336 km² desmatados, um aumento de 14,6% na área devastada em relação ao mesmo período em 2020. O Greenpeace destaca que o aumento ocorre apesar da cobertura de nuvens ter sido superior nesses meses em 2021, o que dificulta o registro das áreas devastadas, e de ter chovido mais na região Norte, "o que em tese deveria desacelerar o desmatamento".

O Deter é um levantamento rápido de alertas de evidências de alteração da cobertura florestal na Amazônia, feito pelo INPE. O mecanismo foi desenvolvido como um sistema de alerta para dar e à fiscalização e controle de desmatamento e da degradação florestal realizadas pelo Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis (IBAMA) e demais órgãos ligados ao meio ambiente. Os índices são divulgados mensalmente.

Governança ambiental
Em nota, o Observatório do Clima afirma que o governo Bolsonaro "se dedica há dois anos e meio a desmontar as políticas de controle de desmatamento". O Observatório, que reúne entidades da sociedade civil com o objetivo de discutir as mudanças climáticas no contexto brasileiro, destaca no texto as investigações sobre o Ministro do Meio Ambiente Ricardo Salles, por suspeitas de crimes de corrupção, advocacia istrativa, prevaricação e facilitação de contrabando que teriam sido praticados por agentes públicos e empresários do ramo madeireiro.

O secretário-executivo do Observatório, Marcio Astrini, ressalta que, além dos prejuízos ambientais, os recordes consecutivos de desmatamento deixam a imagem do Brasil ainda mais desgastada internacionalmente. Ele resume as perdas em dois blocos de prejuízos: os do que o país "poderia ter e não terá" e os "que temos e podemos perder".

No primeiro grupo estão o o a verbas bilionárias, como as da iniciativa "leaf", promovida por Reino Unido, Noruega, e grandes empresas privadas; do Fundo Amazônia, acordos bilaterais com os Estados Unidos que exigem proteção da floresta, além do acordo para criação do mercado comum entre a União Europeia e o Mercosul, travado devido a falta de garantias do Brasil em relação a medidas de preservação do bioma amazônico..

Já no segundo bloco, do que "temos e podemos perder", ele prevê um crescimento do boicote a produtos brasileiros. Astrini afirma que essa pressão internacional trará reflexos diretos sobre a chegada de investimentos do exterior no país e perda de empregos para a população.

- O governo federal brasileiro virou sinônimo de anti-ambientalismo - diz. - Parar de comprar do Brasil já virou uma estratégia de propaganda para as empresas. E os investidores preocupados com o meio ambiente estão cansados de conversar com o Brasil, e, quando viram as costas, o desmatamento segue

Ele enfatiza o alerta de que a devastação da região pode piorar ainda mais nos próximos meses, tradicionalmente o período de maior incidência de incêndios na Amazônia.

- São três principais elementos para as queimadas: o tempo propício com a seca; o material combustível, que é a massa florestal caída no chão pelo desmatamento; e quem risca o fósforo - elenca o especialista, completando: - O governo (Bolsonaro) entra como promotor do bolsa-incêndio. Está ajudando bastante quem risca o fósforo.

Segundo o climatologista Carlos Nobre, os dados do Deter dos primerios cinco meses de 2021 apontam que o cenário até o fim do ano deve ser de uma alta intensa na destruição da floresta, como foram os períodos de 2019 e 2020. Ele alerta que o desmate, a queima e a degradação estão colocando a região sob risco de savanização.

O especialistas criticou a ausência de políticas de fiscalização de crimes ambientais na região, que ficou ainda mais abandonada com o fim da operação Operação Verde Brasil 2 do Ministério da Defesa, em abril, que atuou no último ano para combater o desmatamento.

- O sentimento de impunidade para quem comete crime, desmata ilegalmente, rouba madeira, cresceu muito nos últimos anos - afirma Nobre.

Para Rômulo Batista, porta-voz da campanha de Amazônia do Greenpeace, os alertas de desmatamento "reforçam ainda mais o quanto uma das maiores reservas de biodiversidade no planeta está sendo colocada em risco dia após dia".

"Além de um presidente e um ministro do Meio Ambiente atuando contra a proteção ambiental, o Congresso tem contribuído com essa política de destruição, enfraquecendo deliberadamente as leis que protegem a floresta e seus povos. O resultado de maio não poderia ser diferente já que os retrocessos na governança ambiental só aumentam", afirma Batista, em nota.

Procurado pelo GLOBO, o Ministério do Meio Ambiente não retornou.

O Globo, 05/06/2021, Sociedade, p. 9

https://oglobo.globo.com/sociedade/um-so-planeta/desmatamento-recorde-a…

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