OESP, Economia, p. B3
11 de Dez de 2007
Deságio de 35% é a surpresa
Preço do megawatt/hora ficou em R$ 78,87, ante um teto de R$ 122
Renée Pereira
A exemplo do que ocorreu na concessão das rodovias federais, em outubro, o deságio de 35% conseguido ontem pelo governo no leilão da Hidrelétrica de Santo Antônio, no Rio Madeira, deixou o mercado boquiaberto. Nem a mais otimista das previsões poderia calcular que o preço do megawatt/hora da usina para o mercado cativo (atendido pelas distribuidoras) ficasse em R$ 78,87, ante o preço teto de R$ 122.
Tirando o custo da transmissão, de R$ 22, a energia da usina ficou no mesmo nível do preço da energia velha, de usinas antigas já amortizadas, comercializada há cerca de dois anos no mercado. A expectativa é de que o custo da hidrelétrica e a balizar os próximos aproveitamentos hidrelétricos, especialmente os que serão construídos no Norte do País.
Na avaliação de especialistas, o diferencial que permitiu a redução do preço para um patamar tão baixo pode ser a parcela de 30% destinada ao mercado livre, onde a energia é comprada diretamente na usina por grandes empresas. Esses consumidores pagariam bem mais pela energia produzida na Usina de Santo Antônio e compensaria os R$ 78,87 ofertado no mercado cativo.
O sócio da Comerc Comercializadora de Energia, Marcelo Parodi, explica que, para a usina ter um preço médio de R$ 94 o MWh, o consórcio teria de vender a produção por R$ 130 o MWh. "Esse é o preço praticado hoje no mercado para contratos de dez anos."
Outra explicação para o vencedor destinar os 30% para o mercado livre, já que o porcentual poderia ser menor, é o fato de a Cemig, integrante do consórcio, deter uma das maiores carteiras do País de grandes consumidores, destaca o professor da UFRJ Nivalde Castro, que apostava num deságio de 20% no leilão.
"A empresa tem capacidade de vender essa energia por um preço bem maior, a exemplo do que tem ocorrido nos últimos anos no seu mercado", explica ele. Em Minas, área de atuação da empresa, a média de consumo industrial é de 65%, enquanto no resto do País é de 37%, completa o diretor da CMU Comercializadora de Energia, Walter Fróes, para quem o deságio também foi uma surpresa bastante positiva. "Quem deu esse preço foi o consórcio que melhor conhece o projeto."
Fróes acredita que, além da questão do mercado livre, o conhecimento da obra também contribuiu para o lance ousado do grupo vencedor. "O consórcio só tem empresa experiente no setor, não tem nenhum aventureiro", completa Parodi, da Comerc, sobre o comportamento do mercado financeiro, que avaliou negativamente o preço ofertado.
HORIZONTES
O resultado do leilão foi interpretado pelo presidente da Associação Brasileira da Infra-Estrutura e Indústrias de Base (Abdib), Paulo Godoy, como uma perspectiva de um amplo horizonte para explorar a hidreletricidade no Brasil de forma competitiva. "O leilão de Santo Antônio consolida o marco regulatório do setor elétrico. Quando o processo é competitivo não dá para projetar preço", destaca Godoy.
Para o presidente do conselho de istração da Associação Nacional dos Consumidores de Energia (Anace), Lindolfo Paixão, o resultado da concessão de Santo Antônio pode ser um sinalizador de que estávamos pagando muito caro pelas outras usinas hidrelétricas já licitadas, em que o preço de cada MWh estava ao redor de R$ 122, que foi o piso do leilão de ontem.
OESP, 11/12/2007, Economia, p. B3
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