FSP, Brasil, p.A8
10 de Out de 2005
Em fala pela revitalização do rio São Francisco, frade critica "falta de compromisso" com povo humilde
Bispo insinua que Lula perdeu dignidade
Fábio Guibu
O bispo de Barra (BA), dom Luiz Flávio Cappio, 59, insinuou ontem, em Juazeiro (BA), que o presidente Luiz Inácio Lula da Silva perdeu a sua dignidade e o compromisso com a população mais humilde do país.
Em discurso a cerca de 800 participantes de um ato a favor da revitalização do rio São Francisco, ele disse também que a sua luta contra a transposição não era um ato demagógico nem tinha conotação político-partidária.
"É um gesto de amor para ajudar o nosso presidente Lula a resgatar a sua dignidade e o seu compromisso com o seu povo, porque ele é nordestino", afirmou. "Quem sabe, quase já nesse último ano de governo, possa recuperar aquilo com que ele sempre sonhou e fez com que sonhássemos com ele também."
Cappio lembrou que sempre apoiou Lula e que, agora, esperava uma contrapartida. "Quando me comuniquei com ele, disse: "Lula, minha vida de militante foi vestindo sua camisa. Agora, espero que você vista a minha, que não é só minha, mas de milhões de nordestinos"", declarou.
Assim como costuma fazer o presidente, o bispo usou o futebol para fazer comparações. Disse que "já houve muito jogo" e que o segundo tempo começou com a reabertura das discussões sobre a transposição.
"O chute foi dado, e a bola está correndo no campo", afirmou. "Chegou a vez de nós todos participarmos desse jogo, com inteligência, verdade, sinceridade, transparência e, sobretudo amor ao nosso povo do sertão. Vamos marcar gols", pediu.
A platéia, formada basicamente por integrantes de movimentos sociais, como o MST (Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra) e MTD (Movimento dos Trabalhadores Desempregados), aplaudiu de pé o discurso.
Com um microfone sem fio nas mãos e andando no meio da quadra esportiva de um colégio particular de Juazeiro, onde ocorreu o evento, Cappio foi saudado como herói. Recebeu as bandeiras das entidades presentes, usou bonés e distribuiu bênçãos a todos.
Depois, repetiu o alerta feito ao governo: disse que retornaria a Cabrobó (PE) "com centenas de cidadãos brasileiros" para fazer uma nova greve de fome, se as obras de transposição iniciarem.
Após o ato, os manifestantes fizeram uma eata e bloquearam, por 35 minutos, a ponte que liga Juazeiro (BA) a Petrolina (PE). Não houve incidentes.
O jejum do bispo contra a transposição do São Francisco durou dez dias. Afirmando estar disposto a levar o protesto até a morte, conseguiu negociar com o governo a suspensão das obras e a reabertura das discussões.
Declaração do ministro Jaques Wagner (Relações Institucionais), de que o governo não negociou a suspensão, gerou nova polêmica.
"Se houver uma interpretação diferente daquilo que foi firmado em acordo, poderemos dizer que o governo mentiu", disse o religioso. "Poderemos ter a ousadia de dizer que houve uma blefe."
Cappio viaja hoje para São Paulo. No dia 12, ele concederá entrevista coletiva e celebrará uma missa no Convento de São Francisco. Ontem, ele manteve sua dieta, com frutas, caldos e sucos.
FSP, 10/10/2005, p. A8
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