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28 de Mai de 2025
Agressão a Marina promove agenda da devastação
Debate sobre impacto ambiental deve ser feito com argumentos técnicos. Ofensas a ministra são inaceitáveis
Por Editorial
28/05/2025 17h30 Atualizado há 17 horas
Foram vexaminosas as ofensas desferidas contra a ministra do Meio Ambiente, Marina Silva, em audiência da Comissão de Infraestrutura do Senado. Seu depoimento deveria tratar da atuação de órgãos ambientais na análise do pedido da Petrobras para pesquisas na Margem Equatorial, mas descambou para temas alheios ao objetivo. O resultado foi um show de desrespeito e grosseria que não se coaduna com o exercício da atividade parlamentar. Nada a ver com debate de ideias. Sem ser socorrida nem mesmo pela base governista, Marina deixou a sessão sem ter recebido sequer um pedido formal de desculpas.
O bate-boca produziu diálogos intoleráveis em qualquer ambiente civilizado. Num deles, o senador Marcos Rogério (PL-RO), que presidia a sessão, afirmou: "Me respeite ministra. Se ponha no seu lugar". Noutro, o senador Plínio Valério (PSDB-AM) afirmou que respeitava a mulher, mas não a ministra. Ao que Marina respondeu: "Fui convidada como ministra, então tem que respeitar. Eu me retiro, porque eu não fui convidada por ser mulher". Em março, Valério já dissera que seria difícil tolerá-la por seis horas e dez minutos "sem enforcá-la". O senador Omar Aziz (PSD-AM), que integra a base governista, acusou Marina de trabalhar contra o desenvolvimento do país e ironizou a resistência às obras na BR-319.
O debate foi dominado pela pavimentação dessa estrada que liga Porto Velho a Manaus, cujo projeto se arrasta há anos devido à dificuldade de mitigar seus impactos ambientais. Defensores do asfaltamento - prometido pelo presidente Luiz Inácio Lula da Silva - argumentam que facilitará a integração da região, enquanto ambientalistas alegam que favorece o desmatamento e ameaça a biodiversidade. É legítimo discutir a questão, mas tudo deve ser decidido segundo critérios técnicos, levando em conta benefícios e impactos do projeto. O inaceitável é ofender.
Somente depois de agredida, Marina recebeu solidariedade do governo e do PT. Lula ligou para dizer que ela fez bem em abandonar a sessão. O líder do governo no Senado, Jaques Wagner (PT-BA), a elogiou e tratou o episódio como "fato isolado". O líder do governo no Congresso, Randolfe Rodrigues (PT-AP), afirmou que ela foi alvo de misoginia. O apoio tardio não encobre a forma como Marina foi atirada às feras. E traduz seu isolamento no governo.
O pano de fundo dos ataques é a velha e equivocada ideia de que existe oposição entre conservação ambiental e desenvolvimento econômico. Não há. Os parlamentares deveriam saber que, num mundo acossado pelas mudanças climáticas, ambos são essenciais. "Trata-se de uma retórica que não consegue se provar", diz Marcio Astrini, secretário executivo do Observatório do Clima. "O Ibama bateu recorde de licenciamento ambiental para a Petrobras em 2023 e 2024."
Na base da agressividade, parlamentares tentam impor ao país a danosa pauta antiambiental que tramita no Congresso. Além da flexibilização do licenciamento ambiental, aprovada na semana ada pelo Senado, há outros projetos de impacto, como a anistia a grilagens consolidadas, afrouxando punição para casos futuros, ou a exclusão de tudo que não é floresta das exigências de proteção, com potencial explosivo para a Mata Atlântica. A agenda da devastação no Congresso é uma ofensa não apenas a Marina ou aos ambientalistas, mas a todo o país.
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